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A língua alemã sempre teve a fama de ser “uma língua difícil”. Isso é resultado de uma soma de impressões. A visão do senso comum sobre a língua, do grau de distanciamento existente entre ela e nossa língua materna, além daquilo que vemos durante o aprendizado.
Quando iniciamos o estudo do alemão nos deparamos com diversos estranhamentos e novas descobertas ao longo do caminho. Logo de cara temos palavras gigantescas com um número incomum de consoantes, uma pronúncia um tanto quanto complicada e percebemos que bem lá no fundo o alemão e o inglês são aqueles primos distantes que se veem só no natal.
Conforme o tempo passa descobrimos mais sobre a estrutura da língua em si. O primeiro choque vem na descoberta de que não existem apenas dois artigos, mas três. São eles o feminino (die), o masculino (der), o neutro (das) e no plural há repetição do die.
A princípio a ideia da existência de um artigo neutro parece ser o que as outras línguas sempre sonharam. No português, por exemplo, temos o movimento para a utilização de um gênero neutro, ou marcações de gênero neutras, que pudessem abarcar todos os gêneros possíveis num coletivo igualitário, como por exemplo todes, @s alun@s, ou professorxs. Desse modo, a existência de um artigo neutro seria a solução dos problemas. Ora, se já existe uma marcação neutra por que não é utilizada para referenciar a coletivos? Seria muito útil em um chá de revelação do sexo do bebê, não seria? Apesar da existência do das, ele não soluciona essa questão.
O funcionamento e a estrutura da língua não necessariamente utilizam o artigo neutro no sentido de contemplar os coletivos ou casos de gênero indefinido. Substantivos comuns em quase todos os casos ganharam seus artigos de forma arbitrária. Cachorro é masculino (der Hund), gato é feminino (die Katze), o cavalo é neutro (das Pferd) e o plural de todos eles seriam com die.
Agora quando se referem a profissões, por exemplo, os artigos variam de gênero de acordo com o sexo da pessoa referida e a marcação do feminino também aparece no fim das palavras, funcionando como o português:
der Lehrer (o professor)
die Lehrerin (a professora)
Seria natural imaginar que havendo um gênero neutro, quando se tratasse de coletivos ele poderia ser usado. Criando assim o tão sonhado “@s professor@s”. Porém não é isso que ocorre. Quando falamos sobre um conjunto de professores, como no exemplo, que consista de homens e mulheres, o artigo que será usado é o die, como em todos os plurais, mas na forma masculina.
die Lehrer (os professores)
A forma plural feminina existe na língua alemã da mesma maneira que existe na língua portuguesa. Mas se houver um homem dentro do coletivo, o plural deve ficar no masculino, tal qual no português.
Assim como aqui, na Alemanha, a questão da generalização de coletivos sempre para a forma masculina gera muita discussão. Uma universidade de Leipzig até mesmo instituiu que em todos os documentos publicados fosse usado o coletivo sempre na forma feminina, independentemente de haver um homem pertencente ao grupo (você pode acessar esse artigo aqui).
Apesar da existência de 3 gêneros gramaticais, a preferência pelo gênero masculino sempre é evidente. Mas também deve-se pensar sobre a utilização do die tanto para o feminino como para o plural, será que a decisão da Universidade de Leipzig faz mais sentido do que vem sendo feito até hoje?
Entendendo um pouquinho mais sobre a estrutura da língua alemã, qual seria o melhor caminho para uma linguagem mais igualitária? Seria com o artigo neutro? Seria com a mistura do artigo masculino com a palavra flexionada no feminino?