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Nunca tive exatamente o interesse de estudar em uma instituição americana, e foi apenas alguns meses antes do vestibular que decidi estudar biologia. Nesse meio tempo descobri, por meio de uma notícia na internet, que a Yale oferecia opções que pareciam ter tudo a ver com o que eu aspirava para mim.
Foi então que eu decidi me informar mais; busquei a página da instituição, falei com pessoas que estudaram lá, e tudo parecia me direcionar para esse novo objetivo ― o qual, até bem pouco tempo, eu sequer sabia que tinha…
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Se você já assistiu filmes e séries estrangeiras, já deve ter notado pessoas comentando sobre universidades como a Yale, a Harvard e a Cambridge.
O que você talvez não saiba é que essas top schools são pagas, e que as mensalidades (ou tuitions) podem alcançar valores muito exorbitantes para a nossa realidade. De acordo com o blog Remessa Online, para cobrir estudos, livros, aluguel e mais, um ano na Yale, por exemplo, o custo varia entre 55.550 e 76.000 dólares!
No entanto, você pode também já ter reparado em um outro fato: muitas dessas universidades oferecem programas de bolsas de estudos, que acabam facilitando o ingresso em uma instituição de nível superior fora do Brasil.
Nos EUA, na Inglaterra e em outros países (que não apenas os falantes de língua inglesa!), os sistemas que determinam as admissões nas universidades são bastante diferentes dos brasileiros. Em geral, além de apresentar o histórico escolar, cartas de referência e atividades extracurriculares (como aulas de teatro, ou a realização de trabalhos voluntários, por exemplo), é necessário que o aplicante a uma vaga envie também pelo menos um essay.
Daí você me pergunta: “O que é um essay?”.
Bom, as definições encontradas na internet nem sempre são suficientemente claras ou coincidentes. Isso quer dizer que não existe uma definição exata para o que é um essay, mas ele se trata, basicamente, de um texto escrito curto, que tem como objetivo defender algum ponto de vista (argument) sobre determinado assunto.
Sua estrutura básica é composta por três partes: introdução (introduction), corpo do texto (body), e uma conclusão (conclusion). Isso é muito parecido com as redações que escrevemos aqui no Brasil, mas com algumas pequenas diferenças.
Uma delas é que, em alguns momentos, é necessário e até mesmo indicado que se utilize a primeira pessoa ― algo que costuma ser desencorajado nas nossas redações.
E isso faz muito sentido, pois um dos essays mais frequentes é o chamado personal statement, no qual você deve produzir uma narrativa sobre algum episódio da sua vida, a fim de demonstrar como você é e por que merece uma vaga ou bolsa. Isto é: o objetivo deste essay é destacar suas qualidades e demonstrar que você acredita no seu propósito e valor, ao mesmo tempo em que demonstra suas habilidades acadêmicas, por meio de sua escrita.
“Show, don’t tell”
Segundo Augusta Saraiva, um modo interessante de fazer um essay de apresentação é por meio de uma anecdote, uma história real que pode ajudar a mostrar o que você deseja, sem ficar somente listando razões, pois isso pode tornar seu texto cansativo ou repetitivo ― mesmo que você seja um super applicant, que suas características sejam totalmente interessantes, e seus motivos originais.
Isso é o que ela chama de “show, don’t tell”, e, em um texto, tem muito a ver com um conceito que temos visto com cada vez mais frequência nas redes sociais: mostrar mas não dizer é empregar o chamado storytelling ― que relaciona, em suma, a capacidade de contar histórias ou narrativas de modo relevante, envolvendo o seu interlocutor, de forma que, assim, você consiga alcançar os seus objetivos.
Portanto, lembre-se: a ideia não é fazer isso de maneira direta, apenas pontuando por quais razões você merece a oportunidade. É necessário encontrar uma forma de envolver o seu leitor, que é a pessoa que está avaliando o seu texto e que ajudará a decidir se você ganhará uma vaga/bolsa ou não.
Se for bem feita, sua narrativa terá um tom mais natural, sincero e honesto, e, ao mesmo tempo, será convincente.
Quer um exemplo de como começar? Então volte lá no início desse texto 😉
O que devo ter em mente ao escrever meu essay?
Primeiro, leia as instruções com cuidado, para não se desviar do assunto e nem esquecer o que seu essay deverá conter. Se você tem dificuldades para estruturar suas ideias, pode ser legal começar com um outline, que é como um esqueleto do texto. A partir daí, o seu trabalho é ir “enchendo” e conectando as partes, com ideias e argumentos, até que tudo fique redondinho.
Voltando na ideia das três partes, por exemplo: na introdução, você deverá incluir, de alguma forma, a sua tese, que é a ideia que sintetiza o que você demonstrará e defenderá no seu desenvolvimento (o qual terá de 1 a 3 parágrafos); um modo de fazer isso é apresentando argumentos contra e a favor do assunto selecionado. Ao final, a conclusão amarrará os pontos, e deixará claro ao seu leitor qual é a sua posição.
Nesse meio de campo, você tem que demonstrar que tem repertório ― isto é, que conhece palavras diferentes e tem domínio de estruturas. Portanto, pesquise bastante, para não utilizar construções ou termos incomuns ou pouco frequentes (ou mesmo que você nunca usaria normalmente). Tente diversificar verbos, conectores, adjetivos e advérbios, pois eles podem dar um brilho e até mesmo sofisticação ao seu texto, e lhe ajudarão a subir de nível neste jogo.
Algumas universidades já têm tópicos definidos para a escrita dos essays, como algo mais direcionado para a área pretendida, ou mesmo para a própria instituição. Isso quer dizer que um essay escrito para uma universidade nem sempre poderá ser aproveitado em sua totalidade para a aplicação em outras.
No entanto, o personal statement, já mencionado anteriormente, é muito comum, pois é uma espécie de apresentação pessoal que pode ajudar a demonstrar, em 250-500 palavras (de acordo com a universidade), como você é, o que lhe define, e o que lhe torna um applicant relevante para estar naquela instituição.
Se possível, busque proofreaders, pessoas que possam ler seus textos e lhe dar opiniões sobre a forma como você se expressou, sua escolha de palavras e de estruturas, e até mesmo sobre as histórias que decidiu narrar.
E tenha em mente que esses processos de application são muito longos e demandam muito material; assim, é importante tirar um tempo para poder produzir seus textos com calma e qualidade.
Isso pode lhe ajudar, inclusive, a ter tempo para escrever o essay, deixar ele de lado por um tempinho, e, depois de alguns dias, voltar com a cabeça mais fresca, para verificar se incluiu tudo o que foi solicitado, corrigir possíveis erros, e fazer ajustes ou melhorias necessárias.
Pode parecer cansativo ou até mesmo impossível, mas, praticando bastante e estudando estratégias de escrita, tudo se torna bem mais fácil e alcançável.
Depois de tudo isso, é só anexar o que for pedido pela universidade, esperar o tempo necessário, e, se tudo der certo, correr pro abraço da sua nova alma mater*!
Algumas fontes para continuar sua pesquisa:
- As universidades da Ivy League: https://www.estudarfora.org.br/conheca-as-8-universidadades-que-formam-a-ivy-league/
- Times Higher Education World University Rankings 2021: https://www.timeshighereducation.com/student/best-universities/best-universities-world
- As tuitions em algumas universidades de renome: https://www.remessaonline.com.br/blog/o-que-e-tuition-e-quanto-custa/
- Canal da Augusta Saraiva: https://www.youtube.com/watch?v=jPEeCdoxSaE
*Nome muito utilizado nos EUA para a instituição onde a pessoa fez seu curso de graduação.